Usando os dons que temos: uma reflexão a partir do trabalho da igreja no Brasil

Por Marcos R. Inhauser

“O Senhor me respondeu: Escreva esta visão; inscrevê-lo claramente em tábuas, para que se possa lê-lo facilmente” (Habacuque 2:2).

Aprendi e acredito que a igreja é uma cooperativa de doações. Além disso, que em cada congregação local, há uma variedade de presentes. Cheguei a pensar que deveria haver todos os dons listados na Bíblia em cada igreja local.

No ministério pastoral, porém, essa doutrina, na prática, é diferente. Descobri que não havia uma multidão de dons nas duas primeiras igrejas que pastoreei. O presente mais comum era o “dom de ficar sentado de braços cruzados”. Outro era o “observador passivo” ou pior, o “observador crítico”.

Como não havia a variedade de dons que eu imaginava que deveria haver, acabei assumindo o papel de maestro da orquestra que toca todos os instrumentos. Com minha esposa, fizemos tudo. Eu me senti poderoso. Mas cansei de ser poderoso, carregando a igreja sozinho nas costas.

Suely e Marcos Inhauser (à esquerda e ao centro) mostrados aqui participando de uma conferência da igreja nos Estados Unidos há alguns anos. Foto por Ken Bomberger

Em meus estudos de doutorado em ministério, pesquisei sobre dons em uma denominação específica. Descobri algo interessante: há congregações onde há a primazia de um dom específico. Ele vai junto com o dom que o pastor da igreja é revelado ter. Se o pastor era um evangelista, a igreja estava cheia de evangelistas. Se o pastor tivesse o dom do serviço, a igreja tendia a ser uma igreja diacônica. Se o pastor tinha o dom de ensinar, a igreja estava cheia de mestres.

A pergunta que me veio à mente foi: esses presentes são ou são “fabricados” pelo líder? Se são dons, por que essa aglomeração em uma igreja local específica? A igreja tem a predominância de um dom porque as pessoas vêm frequentar, sentindo-se confortáveis ​​com a predominância de seu dom na comunidade?

Não obtive uma resposta definitiva. Entendo e aceito hoje que cada comunidade local deve exercer seu ministério usando os dons que existem dentro dela. Para ilustrar isso, quero contar um pouco sobre a história da Igreja da Irmandade.

Quando iniciamos o projeto, alguns dos meus alunos estavam motivados a participar. Cinco desses alunos foram aqueles com quem começamos.

Tenho o dom de ensinar e, como vejo hoje, três dos cinco também eram capazes de ensinar. Nenhum era evangelista. Um tinha o dom da misericórdia e o outro da administração. Deu a identidade de que somos uma igreja que ensina. Alguns que se juntaram mais tarde também tinham o dom de ensinar. Tivemos dificuldades em contar com evangelistas, ou dons de serviço, ou dons de cura, e contribuições.

A crise da pandemia e a impossibilidade de nos encontrarmos regularmente nos abalaram. Como desenvolver nosso ministério de ensino quando mais consolo era necessário? Como manter acesa a chama da comunhão se o que nos une é o aprender/ensinar?

Depois de refletir, ouvir os membros e avaliar a situação contextual da igreja no Brasil, quando retomamos os cultos presenciais também iniciamos um seminário online. Estamos oferecendo cursos de história da igreja, cuidado pastoral para perdas, análise de livros bíblicos e outros que nos são solicitados. São quatro dias de aulas, uma por semana, com duração de uma hora.

Estamos usando os dons que temos sem reclamar da falta de outros que não temos.

-– Marcos R. Inhauser junto com sua esposa, Suely Inhauser, coordena a missão da Igreja dos Irmãos no Brasil e é líder na Igreja da Irmandade.

‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑

Encontre mais notícias da Igreja dos Irmãos:

[gt-link lang="en" label="English" widget_look="flags_name"]