Violência, festas e presentes: uma reflexão de equipes de pacificadores no Iraque


Duas semanas atrás, logo após o jantar, ouvimos o som de tiroteio pesado, muito mais alto e mais longo do que os tiroteios comuns nas ruas. Os vizinhos estavam nas ruas se perguntando o que estava acontecendo e logo concluíram que eram ataques aéreos dos EUA em outro bairro a alguma distância daqui. Ainda não descobrimos onde ocorreram ou as razões dadas para as greves.

As últimas semanas no Iraque foram mais violentas, com mais de 200 pessoas mortas e um jornalista americano que conhecemos no verão passado, sequestrado. Saber que tem sido comum haver um surto de violência pouco antes de grandes eventos e feriados não o torna menos horrível.

Durante a celebração muçulmana de quatro dias do Eid al Adha, as pessoas saíram em grande número para comprar comida e presentes para as celebrações de suas famílias. Gostei de estar ali no clima festivo, cumprimentando as pessoas que conhecemos. O aumento da violência não impede que as pessoas continuem com as atividades festivas ou recreativas que ajudam a conter o desespero.

Quase todos os dias ainda podemos ver jogos de futebol empolgantes acontecendo no parque do outro lado da rua. Pelo menos por esses curtos períodos, esses homens ou meninos podem esquecer e liberar sua preocupação e frustração enquanto se jogam em seus jogos.

No mês passado, quando cheguei a Bagdá, fiquei nervoso por estar nas ruas, sem saber como seriam as coisas desde o sequestro. Há alguns que hesitam em se relacionar conosco agora por causa do perigo potencial, mas para outros isso não é verdade. Fico feliz em receber saudações de boas-vindas de pessoas do nosso bairro que sabem quem somos e o que fazemos aqui. Muitos nos param e perguntam se temos alguma notícia sobre nossos quatro colegas. Muitos, muçulmanos e cristãos, nos dizem que estão orando por eles.

Eles sabem o que é se preocupar e esperar, ter familiares feridos ou mortos. Alguns iraquianos tornaram-se amargos, desconfiados e dispostos a tirar vantagem de seus companheiros iraquianos durante esse período caótico, mas a maioria continua sendo graciosa e generosa no cuidado mútuo.

Um vizinho me explicou que quando um membro de uma família iraquiana é sequestrado por uma gangue criminosa, todos na vizinhança contribuem para a família para ajudar a libertá-los, dando a entender que nossos vizinhos nos ajudariam dessa forma se quiséssemos. Não estamos prestes a pedir que eles façam isso, mas estamos humilhados pelo que ele disse. Em suas dificuldades e lutas, não podemos esperar que eles sejam capazes de cuidar dos internacionais em seu meio. O que eles foram capazes de dar, no entanto, e o que nos sentimos privilegiados por receber, foram os presentes de amor e aceitação que ele e outros generosamente nos oferecem.

Peggy Gish é membro da Igreja dos Irmãos que trabalha no Iraque com as Equipes de Pacificadores Cristãos (CPT). Esta reflexão foi retirada de um comunicado de imprensa da CPT. Quatro membros do CPT – Tom Fox, Norman Kember, James Loney e Harmeet Singh Sooden – foram sequestrados no Iraque em novembro de 2005. Um vídeo exibido na Al Jazeera em 28 de janeiro mostrou os homens vivos, mas incluiu uma nova ameaça de morte se os EUA não liberta seus prisioneiros no Iraque (veja relatórios anteriores da Newsline em www.brethren.org/genbd/newsline/2005/dec0505.htm e www.brethren.org/genbd/newsline/2005/nov2905.htm). A CPT tem suas raízes nas Igrejas Históricas da Paz (Igreja dos Irmãos, Menonita e Quaker) e é um programa ecumênico de redução da violência que coloca equipes de pacificadores treinados em áreas de conflito letal. Está presente no Iraque desde outubro de 2002, fornecendo ajuda humanitária na forma de treinamento e documentação de direitos humanos. Para mais veja http://www.cpt.org/.

 


A Newsline da Igreja dos Irmãos é produzida por Cheryl Brumbaugh-Cayford, diretora de serviços de notícias da Junta Geral da Igreja dos Irmãos. As histórias do Newsline podem ser reimpressas se o Newsline for citado como fonte. Para receber Newsline por e-mail, escreva para cobnews@aol.com ou ligue para 800-323-8039 ramal. 260. Envie notícias para cobnews@aol.com. Para mais novidades e recursos, assine a revista Messenger; ligue para 800-323-8039 ramal. 247.


 

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